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O SUCESSO DO BRASIL COM O AGRONEGÓCIO: PASSADO E FUTURO

Esse foi o tema de um Painel do 1º Congresso da Produção Nacional, realizado em Luanda, Capital de Angola, nos dias 27 e 28 de junho de 2018, sob os auspícios da Confederação Empresarial de Angola – CEA, e para o qual foram convidados profissionais brasileiros com larga experiência no tema. Tocou-me apresentar palestra sobre o título BRASIL: Um caso de sucesso no Agronegócio.

Esse Congresso se insere na intenção de o país produzir alimentos, deixando gradualmente de ser importador de comida às custas da exportação de petróleo e de pedras preciosas. Em ocasiões anteriores essa necessidade já havia sido manifesta tanto por agentes de governo, quanto por instituições privadas, em que o propósito era "transformar a agricultura angolana nos moldes em que o fizemos nos Cerrados brasileiros".

A história dos Cerrados pode ser relatada em três períodos importantes para o seu conhecimento e, mais recentemente, para o seu desenvolvimento econômico e social. Nesses períodos ocorreram importantes decisões políticas, a saber:

1) de 1824 a 1967, caracterizado, basicamente, por estudos florísticos e fitogeográficos e por estudos sobre a ecologia dos Cerrados, primordialmente, no âmbito da Botânica. Em 1892 houve a decisão de Dom Pedro II, Imperador do Brasil, de baixar Decreto transferindo o local da Capital do País para o interior do Estado de Goiás, nas proximidades da Cidade de Planaltina;

2) de 1968 a 1974, caracterizado por ampla revisão de literatura realizada por Mário Guimarães Ferri, Professor da USP – Universidade de São Paulo. Em 1960, foi inaugurada a nova Capital da República, Brasília, promotora da interiorização do desenvolvimento do país; e

3) de 1974 em diante, período que registra a decisão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) de criar o Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC). Esta importante decisão política se deu por iniciativa do Ministro da Agricultura Fernando Cirne Lima, de rever a pesquisa agrícola nacional. Esse rever resultou na criação da EMBRAPA. Outra decisão histórica importante se deu no Governo do General Ernesto Geisel, pela criação do Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste (POLOCENTRO), em 1975, o qual teve como componentes quatro fundamentos: (i) o fortalecimento da pesquisa; (ii) a promoção da extensão rural: (iii) financiamentos e crédito agrícola; e (iv) infraestruturas, notadamente, de estradas, energia elétrica e de armazenamento. Esse Programa, mais tarde, deu origem ao Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER – I, II, III etc) contando com a cooperação do Governo Japonês.

Aqui também cabe um relato por períodos: O primeiro, de 1974 a 1984, período em que o CPAC começou a operar, em 1o de julho de 1975, quando ainda existia grande ceticismo a respeito de usar o Bioma Cerrado para a produção agrícola, pois se tratava de solos ácidos, inférteis e que nada produziam, era perda de tempo e jogar dinheiro fora. Ao cabo de três anos, essa imagem foi substituída por "tem potencial" e ao final de mais cinco anos "era uma realidade". Nesse período o desenvolvimento foi capitaneado pela pesquisa, predominando a introdução de espécies e de materiais genéticos, a forte atuação em Química Inorgânica e Mecanização, e pelo enfoque sistêmico na pesquisa adotado pela EMBRAPA. Nesse período se estabeleceu o Cooperativismo na Região.

O segundo período, de 1984 a 1994, foi marcado por trabalhos em Melhoramento Genético, Biotecnologia, Química Inorgânica, Mecanização e Irrigação (pivô central), com enfoque em Cadeias de Produção, de Logística, de Custódia e de Valor, e adoção de Câmaras Setoriais e Temáticas pelo Ministério da Agricultura. Em 1993, foi criada a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e consolidou-se o Crédito Cooperativo.

De 1994 em diante, estabeleceu-se a metodologia de materiais Transgênicos, seguiu-se com a ênfase em Química Inorgânica, introduziu-se a Mecatrônica, a Agricultura de Precisão, e a Irrigação por Gotejamento e Microaspersão. Nesse período consolidou-se o desenvolvimento econômico e social, em que toda a agricultura, agroindústria e o agronegócio alcançaram a maior idade, fazendo do Brasil um exportador de produtos agrícolas para 200 países e, internamente, legitimar o setor com o argumento de que o agronegócio é estratégico para a economia do país, moderno, produtivo, internacionalizado, gerador de divisas, emprego e renda, por isso mesmo identificado aos interesses da nação como um todo. O Agro é tudo!

Mas, nem tudo foram rosas. Não é essa a única leitura do agronegócio que circula no espaço público brasileiro. Ele é denunciado como predador do ambiente, gerador de desemprego e de pobreza, concentrador de propriedade da terra, movido unicamente pelo lucro e, portanto, expressão somente do interesse das classes dominantes.

Em meio a esses embates o agronegócio foi se firmando como realidade inquestionável. São exemplos que a sustentam:

  • Mais de 25% do PIB nacional;

  • Detém 37% dos empregos;

  • Participa com 46% das exportações;

  • É o terceiro maior exportador mundial do setor;

  • Com 30% das terras em uso pela agropecuária;

  • O país ainda tem 61% do território coberto por matas nativas; e

  • Nos últimos 20 anos a área plantada com grãos cresceu 37% e a produção mais de 176%, resultado do aumento de produtividades.

No ano passado, 2017, o PIB dos serviços foi negativo, o do comércio foi negativo, o da indústria foi negativo, e o do agronegócio foi positivo em 13%. O Agronegócio sustenta o país.

O Brasil lidera o conhecimento e a geração de tecnologias para o desenvolvimento da Agricultura Tropical do mundo. Angola tem as condições ideais para receber esse acervo e iniciar o seu desenvolvimento com a transferência de tudo o que o Brasil conquistou.

Como aqui, também lá é fundamental que se organize a vontade política; se organize as ações meio – estruturantes, e se organize as ações fim – finalístico-produtivas. Isso permite que se estruture o Plano Estratégico, o Plano Máster e os Planos de Negócios. A CEA pretende que seja elaborado o Programa de Desenvolvimento Integrado do Agronegócio (ProDIA), para Angola.

E para os Cerrados do Brasil qual é o futuro? Isso foi abordado muito superficialmente, mas aqui se pretende aprofundar um pouco mais a questão.

Atualmente, o Brasil é o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, álcool e sucos de frutas. Além disso, lidera o ranking das vendas externas de soja, carne bovina, carne de frango, tabaco, couro e calçados de couro. Projeções indicam que, em breve, será o principal pólo mundial de produção de algodão e biocombustíveis, feitos a partir da cana-de-açúcar e de óleos vegetais. Milho, arroz, frutas frescas, cacau, castanhas, nozes, além de suínos e pescados, são destaques do agronegócio brasileiro, que emprega atualmente 17,7 milhões de trabalhadores só no campo[1].

No texto, a Química Inorgânica ou Mineral é sublinhada. A razão é simples: (i) os solos dos Ecossistemas Cerrados necessitam de adubação corretiva com fosfatos e calcários e outros componentes: (ii) lixiviados por serem os mais antigos do planeta (inférteis) necessitam de adubações de plantio e de semeadura; e (iii) até que se ajustem a um contexto desejável e para certos cultivos necessitam de adubações de cobertura. Tudo isso é função de corretivos e fertilizantes minerais. Em condições favoráveis de disponibilidade de água e de energia, surgiu a irrigação, como complemento aos regimes naturais de chuva.

Por outro lado, se examinarmos esse desenvolvimento em função do tipo de cultivos, percebe-se que a ênfase se deu em cultivos destinados à ração para alimentação animal, ao lado do estabelecimento de pastagens e forrageiras. Mais recentemente, parte dessa produção se destinou à biocombustíveis. Soja, milho, sorgo, algodão, cana-de-açúcar são exemplos que levaram o país à exportação de carne bovina, carne de frango (ovos), carne de suínos e de pescados, além da própria soja e açúcar e álcool.

Produtos agrícolas para a alimentação humana, como os listados acima, principalmente carnes, ao lado de outros: como feijão; mandioca; frutas; legumes; verduras (FLV) e bebidas, servem tanto à exportação como ao consumo interno.

No Brasil existia até há pouco tempo uma separação entre os primeiros afeitos ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), enquanto que os segundos ficavam a cargo do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), geralmente atendidos pelo Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF). Estes não se consideravam partícipes do Agronegócio.

Em face dessa dicotomia e aos vaticínios que se apregoam sobre mudanças climáticas já passou do tempo de se prestar mais atenção à Química Orgânica e o papel que o Carbono e a Matéria Orgânica desempenham na vida nos solos e na maior capacidade de retenção de água devido a um melhor manejo da drenagem.

Nunca é demais relembrar o Ciclo do Carbono. O CO2 é transferido da atmosfera aos oceanos pelo simples contato e nele se transforma no Carbonato de Cálcio, presente em conchas de animais marítimos e que dá origem ao Calcário.

A extração de combustíveis fósseis do interior da Terra devolve o Carbono à biosfera terrestre, cuja queima acelera a devolução do CO2 à atmosfera.

As plantas retiram CO2 da atmosfera através da fotossíntese e os animais comendo as plantas (e fitoplanctum) repassam o Carbono a toda a cadeia alimentar, que é devolvido para a atmosfera através da respiração.

O Ciclo do Carbono é um dos processos mais importantes da Terra. Trata-se de um dos responsáveis pela manutenção da vida no Planeta. Ajuda na compreensão do efeito estufa e está relacionado a elementos como o oxigênio que só é liberado com a fotossíntese.

A pesquisa agrícola deveria prestar mais atenção ao binômio água – carbono, inclusive, no caso da água tratando de outro importante Ciclo Hidrológico, para a Agricultura, do Ciclo Hidrológico Curto – CHC, isto é, da água que chega aos imóveis rurais e neles é retida pelo maior tempo possível para uso o ano todo. Esse é o princípio fundamental da Agricultura Irrigada.

[1] <http://www.portaldoagronegocio.com.br/pagina/o-que-e> MAPA. Brasília/DF


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